Foi só uma brincadeira, né?
Ter uma melhor amiga já partiu mais meu coração do que qualquer homem.
Eu não posso afirmar que ter uma melhor amiga que te odeia é um evento canônico na vida de toda mulher, mas sei que isso acontece com uma frequência ridícula e a gente só percebe quando fica extremamente na cara que, minha filha, essa garota te odeia.
Mas sempre tem as redflags que nós ignoramos porque, “tadinha, todo mundo bloqueou ela mas ela é uma pessoa boa, olha esse chaveiro que ela me deu”.
Eu vivi isso com uma pessoa que vamos chamar de “Mel”.
Eu já conhecia ela há alguns anos mas foi na pandemia que aprofundamos na amizade por conta de um interesse em comum, o desenho, que inclusive foi vendo ela com 12/13 anos que comecei a desenhar, o que poderia dar errado?
Quando tivemos um boom na nossa amizade por conflitos parecidos e formamos um trio ai sim tudo ficou mais pessoal, com segredos e tudo mais. E estavam seguros até conhecermos juntas um homem que não fazíamos ideia de como era o rosto mas tinha uma voz bonita.
Eu não me interessei, mas Mel? Aposto que sim pois não demorou muito para contar segredos meus como a primeira experiência sexual com 13 anos pra ele e me taxar de vagabunda pra um cara que estávamos conhecendo agora.
“Foi uma crise, ela esqueceu de tomar os remédios dela”
Ignorei e perdoei silenciosamente, até porque, nunca recebi um pedido de desculpas por isso.
Seria bom se tivesse parado por ai, mas depois tivemos mais brigas porque eu fiquei com um garoto que ela ‘‘gostava’’(?). O pequeno detalhe é que ela namorava e outras brigas diversas que os motivos são tão sem noção que eu sequer lembro até chegar o ano que a amizade acabou, nesse ano todas as pequenas brigas começaram a me esgotar muito mais e se tornarem mais memoráveis.
Houve mais dois casos dela espalhando o que aconteceu comigo quando eu tinha 13 anos, mas um pouco pior.
Conhecem o jogo ‘‘amigos de merda’’? Joguei com ela duas vezes em dois grupos diferentes e em ambos ela jogou a carta ‘‘irresponsável sexualmente’’ para mim. Lembrando que eu tinha 13 anos na época. E mesmo assim quando joguei isso com ela eu ainda era virgem.
Ela só queria me menosprezar para os outros mesmo.
Me incomodou e doeu muito. Meu ex me aconselhou falar com Mel.
‘‘Nossa! Você levou isso muito pro pessoal, é brincadeira. Descansa’’
É CLARO QUE EU LEVEI PRO PESSOAL, 'CÊ 'TÁ FALANDO DA MINHA VIDA!
Ignorei mais uma vez, como sempre. Mas dessa vez foi diferente.
Algo em mim começou a prestar mais atenção. A pesar os prós e contras. A parar de ignorar minhas dores só porque ela me deu uma pelúcia fofa. Minha sanidade vale mais do que qualquer chaveiro.
Fiz 18 anos, foram vários meses de calma na nossa amizade sem nenhum conflito grande até eu finalmente conseguir um emprego.
Lembram do surto do live action da Barbie? Meu primeiro dia no emprego novo foi no dia da pré-estreia, as 16h
Eu estaria trabalhando e não pediria para sair mais cedo por conta de BARBIE. Nem pedi meu dinheiro de volta, me desculpei e pedi pra ela ir com outro amigo e dar meu ingresso pra essa pessoa.
Ela levou, claro, mas sobrou pra mim, que recebi tratamento de silêncio e um story: “Indo ver Barbie com meu amigo que sempre aceita fazer as coisas comigo”.
Dessa vez eu comuniquei meu incômodo, conversamos mas eu já sabia que algo iria dar errado, ela ficar triste por eu finalmente conseguir um emprego com o único custo que eu não poderia mais dar atenção integral a Mel—mesmo conseguindo mais liberdade de ir e vir tendo meu próprio dinheiro, não eram os planos de Mel para mim— já era algo muito estranho para uma amizade sincera, mas seguimos.
Voltando no passado para contextualizar, tenho um irmão da minha idade e ele e Mel se encontraram no Tinder e resolveram começar a conversar e eu era a ponte perfeita.
Não deram certo, mas não de um jeito caótico, a conversa só não bateu. Nenhum dos dois se mostraram desconfortáveis com isso. Até, alguns meses depois, eu citar meu irmão numa ligação com Mel e ela o chamar de babaca. Ela me explicou que ele não tinha responsabilidade emocional e não sei o que mas convenhamos, conheço meu irmão há 20 anos, eu não acreditei no que ela disse, mas nunca fui atrás através do meu irmão para descobrir o que estava acontecendo, até porque, também conhecia Mel e seus surtos
Esse meu emprego eu tinha meu irmão como colega de trabalho, ou seja, mais tempo diário para fofocar. E foi nesses momentos que eu contei sobre o episódio da Barbie e como encerrou que eu revelei “Mel te acha babaca porque você ignorou ela”. Imediatamente meu irmão pegou o celular dele e me mostrou a verdade:
Não precisei inventar nada. Foi exatamente assim que vi a verdade estampada na tela.
Sinceramente, meu limite chegou só nesse momento. Me maltrate mas não queira me afastar da minha família, especialmente meus irmãos.
Foram dois dias para entender como cortaria esse laço, Mel tinha muitas questões psicológicas e mesmo ela me fazendo mal, queria um jeito de não afetar tanto assim. Conseguimos contato de um psicólogo que a recomendação principal era fazer esse afastamento aos poucos mas meu sangue não era frio o suficiente para manter contato, então a recomendação foi fazer esse corte de uma vez mas sem explicar os motivos para não causar sentimento de culpa. Foi muito pesado, mas finalmente eu tirei um peso enorme das costas e tive meu primeiro alívio de saber como é impor limites e me priorizar.
Onde quero chegar com tudo isso? Não sei ao certo, mas nunca contei minha experiência de modo tão real. Permaneci confiando em amizades femininas, só não muito nas amizades de cabelo colorido.
Essa situação com Mel na verdade me ensinou a finalmente dar limites reais nas minhas relações e talvez tenha sido aí que o resto das minhas amizades caminharam pras ruínas — um dia conto melhor.
Sentir que terminar uma amizade que eu considerava tão importante me trouxe mais paz do que tristeza me provou que, em uma amizade, nenhum lado tem que doer como doía. Eu não notava, mas eu sofria, cada dia mais com medo de qualquer coisa que eu pudesse falar pois não sabia se podia ter uma boa reação ou um tratamento de silêncio.
Hoje em dia, eu não confio mais tanto minha vida a amizades que podem me mostrar que me odeiam a qualquer momento. Mas essa culpa não é somente da Mel.
Ela só me ensinou a dar limites e respeitá-los. Mas por ter sido uma amizade muito gritante em tudo que acontecia, acabei ficando com fama de “boazinha” que perdoa tudo. E quando provei o contrário... ninguém quis permanecer.
Obrigada por ler até aqui.
Escrevi esse texto pra me ouvir, você não precisa se identificar — afinal, existem 8 bilhões de verdades, mas se você se encontrou em algo é bom saber que eu não estou sozinha.
Com carinho,
Lanai♡
Nos últimos anos, aprendi a me colocar em primeiro lugar. E também aprendi que, se uma pessoa menospreza você na frente dos outros, então ela não te quer tão bem assim. Gostei muito de conhecer um pouco mais sobre você.
Nossa, tive uma experiência similar com uma amiga. Eu entendo, é péssimo, pois pisamos em cascas de ovos todos os dias. Essa ex amiga chegava até roubar dinheiro de mim (juro, nem eu acreditei), foi aí quando eu dei um basta!