A noiva cadáver traduz bem algo que passei.
Com dezessete anos conheci um cara de vinte anos que se interessou muito por mim, de início não foi algo que eu queria de fato mas eu sempre fui uma pessoa que gostava muito de atenção, então permaneci.
Após um mês de conversa constante eu estava começando a enjoar, não me leve a mal, era uma pessoa boa mas já estava me sufocando.
Me lembro até de uma situação em que ele perdeu o celular no Uber e eu senti alívio por saber que passaria um tempo sem contato constante e assim ele desistiria de mim. Mas ai ele recuperou o celular e eu fiquei muito triste.
Eu não sabia entender meus sentimentos e esperei a oportunidade perfeita de dar um fim nisso sem tanto sofrimento.
Numa festa de aniversário de uma amiga eu vi ali a situação perfeita e mandei a mensagem:
Eu não te amo.
Irresponsável? Talvez, mas vamos lá, dezessete anos.
Pensei que meu problema estaria resolvido, mas eu só piorei ele. Esse cara surtou, começou a passar mal e até vomitou de ansiedade.
Imagine jogar esse peso numa garota de dezessete anos…
Voltei atrás, inventei a pior desculpa do mundo e ali minha sentença estava feita: Eu não poderia largar esse cara.
Foi um ano dessa prisão, mas com o tempo eu fui me convencendo que eu o amava.
Mas eu não falava meus incômodos.
Não falava das coisas que eu gostava e ele não.
Vivi num espaço onde nunca pude ser eu mesma por medo e culpa de ferir novamente.
Aquela noite que ele passou mal eu voltei pra minha casa me tremendo de medo de ter estragado a vida de alguém e juntando com o fato que, naquela época, eu detestava o fato de poder virar vilã na vida de alguma pessoa e queria constantemente me forçar a ser uma garota dócil e perfeita o tempo inteiro e essa reação dele só intensificou algo que já estava tão enraizado em mim.
Foi o tempo em que eu mais falei ‘‘eu te amo’’ sem amar nada, mas eu acreditava que sim. Eu precisava acreditar que sim.
O tempo foi passando, eu me apegando e acostumando até que minha amiga deu ideia de baixar o Tinder, pedi autorização e lá fomos nós. Eu já estava com 18 anos e achei uma pessoa legalzinha lá que me queria mas eu não podia querer, nunca falei pra ele que namorava, mas também não flertava — Até hoje eu vivo a dúvida se foi traição ou não.
E foi aqui que o cenário muda. Eu mudei com esse meu namorado, porque pela primeira vez eu me vi diante uma pessoa que realmente me interessava mas eu não podia me interessar por ele e fui cultivando uma amizade forte pra suprir um pouco o que eu queria de verdade e torcer pra ele não desistir.
Eu ainda não podia terminar. Ele teria outra crise e eu seria a culpada de tudo.
Eu fui ficando cada vez mais distante, demorando horas pra responder, quando aparecia era contando uma história muito legal do meu amigo novo e eu não fazia isso por maldade, eu só não sabia das minhas verdadeiras vontades.
Até que o inevitável aconteceu, ele terminou comigo. Na hora doeu muito porque estar com ele era estável e perder a estabilidade é assustador.
Ao mesmo tempo que foi questão de horas pra me sentir livre e finalmente poder responder os flertes desse amigo — Perdi ele em 3 semanas porque ele não gostava de mim, só gostava do desafio que eu era quando namorava e quando estive emocionalmente disponível pra ele, ele caiu fora.
Mas agora, na minha opinião, só piora. Vocês acham que eu notei a prisão que fiquei por 1 ano?
Não. Eu falava para todos que eu vivi meu primeiro relacionamento saudável com ele. Eu acreditava de fato que vivi um relacionamento saudável.
Sabe quando fui notar que não? 2 anos depois.
Vivendo agora o término com uma pessoa que eu de verdade amei e tive que olhar melhor pro meu passado pra entender de onde meus péssimos padrões nasceram.
Hoje em dia eu nunca passaria por isso porque eu aprendi que está tudo bem desagradar.
Você não precisa ser perfeita, você tem que estar feliz com suas escolhas e as vezes priorizar seus sentimentos podem machucar. Machucam principalmente aqueles que sentem que tem que ter os sentimentos priorizados por todos ao seu redor. Ai surtam até você se sentir culpado.
Não julgo meu ex, não sei da realidade dele para ele ter agido daquela forma.
Mas não o vejo como uma pessoa muito boa que passou pela minha vida como eu via antes. Eu sofri sem saber.
O buraco de como essa relação foi ruim ao ponto de levar coisas ruins pra uma pessoa que amava é bem mais embaixo. Ainda estou entendendo todas as questões.
A principal lição é: Desagrade independente da reação do outro. Você não tem culpa de como o outro se sente ou age após ser contrariado, é uma questão dela, não sua.
A verdade é que eu não estava viva ali. Só hoje entendo que sair foi meu primeiro passo fora do túmulo.
Obrigada por ler até aqui.
Escrevi esse texto pra me ouvir, você não precisa se identificar — afinal, existem 8 bilhões de verdades, mas se você se encontrou em algo é bom saber que eu não estou sozinha.
Com carinho,
Lanai♡